SEGUNDA FEIRA, 21 DE ABRIL DE 2025

Migração contribuiu para a formação da cultura campo-grandense


Paraguaios são um dos povos que chegaram a Campo Grande com a instalação da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, inaugurada em 1914

Com a chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), Campo Grande ganhou muito mais que novos habitantes. A cidade se desenvolveu e, junto do crescimento, vieram imigrantes que contribuíram para que a hoje capital de Mato Grosso do Sul enriquecesse a sua cultura.  

Entre esses povos, alguns se destacaram mais que outros, e talvez um dos mais presentes atualmente no que temos como inconsciente coletivo de Campo Grande é a colônia paraguaia.

“Não podemos esquecer que Campo Grande fica bem no meio dessa parte sul do Estado, e essa posição geográfica só vai interferir com a chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Se tudo que nós tínhamos de relações era por meio de Cuiabá, a partir da chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que une Campo Grande com a Bolívia e com o Paraguai, todo esse contexto de Bolívia e Paraguai começa a ter uma relação muito forte com Campo Grande”, explica o historiador Roberto Figueiredo.  

“Então, se isso não existia, a partir da estrada de ferro a gente vai ter esse grande contato com esses dois povos”, completa Figueiredo. A inauguração da ferrovia em Campo Grande ocorreu em 1914.

Segundo o diretor cultural da Associação Colônia Paraguaia, Ricardo Zelada Cafure, hoje há pelo menos 100 mil paraguaios e descendentes diretos morando em Campo Grande.  

O maior fluxo de chegada dessa população ocorreu de 1930 a 1940, quando houve a vinda de trabalhadores para as plantações de erva-mate na região sul de Mato Grosso do Sul, já que, na época, a região era uma das maiores exportadoras do produto do mundo.

A vinda para Campo Grande foi um pouco depois, por causa do desenvolvimento da cidade, que ainda pertencia a Mato Grosso. “Como se trata de uma cidade desenvolvida, famílias inteiras se instalaram em Campo Grande. A cidade recebeu muitos paraguaios, principalmente de Concepción, onde houve uma grande migração, principalmente nas décadas de 1950, 1960”, conta Cafure.  

“O regime que eles tinham no Paraguai [na época] era um regime ditatorial, e as famílias se sentiam ameaçadas e não progrediam. Campo Grande recebeu muitos paraguaios que vinham trabalhar no frigorífico Bordon. Era um trabalho simples, mas honrado, e eles eram considerados os melhores desossadores do Estado”, relata Albino Romero, presidente do conselho deliberativo permanente da Associação Colônia Paraguaia.

“Vieram também os barbeiros paraguaios, e além deles vieram os alfaiates, os sapateiros. Esses que vieram para cá começaram a ter filhos, netos, e esses filhos e netos foram crescendo e hoje são um grupo de bons médicos, bons advogados, bons engenheiros. Se sobressaíram na profissão, somos respeitados”, acrescenta Romero.

GUERRA DO PARAGUAI

Mas antes mesmo de receber o nome de Campo Grande e de ser uma região desenvolvida, a cidade e o restante do Estado já tinham um vínculo com o país vizinho. Isso porque, durante a Guerra do Paraguai (1864 a 1870), o sul do que era a província de Mato Grosso foi invadido e tomado pelo Paraguai.

“Esse contato, principalmente com o Paraguai, é histórico. O sul do nosso estado em determinados momentos pertenceu ao Paraguai, durante a guerra, e em outros momentos não. Por termos essa relação de fronteira seca, em que é mais difícil de coordenar a passagem das pessoas, ela vai cada vez mais fortalecer esse laço entre os estados. Essa relação pós-guerra do Paraguai, uma relação doída e de sofrimento, não podemos esquecer disso, começa a existir principalmente por conta dessas questões de fronteira”, contextualiza o historiador Roberto Figueiredo.

Nessas condições foi que a região foi moldada e recebeu uma entrada cada vez maior de paraguaios que chegavam em busca de melhores condições de vida.


Fonte: https://correiodoestado.com.br