Por dois dias Campo Grande discute, na Casa de Leis, as dificuldades de atendimentos em saúde, com a ideia de propor - por profissionais da área, gestores e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) - políticas públicas que possam melhorar a situação, com a 9ª Conferência Municipal de Saúde.
Na manhã desta sexta-feira (24), na Câmara Municipal, a ex-secretária municipal e estadual de Saúde, Dra. Beatriz Dobashi, inaugurou a conferência apontando para todo o trabalho que precisa ser feito, de proposição de políticas, uma vez que o País retrocedeu em todas as metas dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, impostos pela Organização das Nações Unidas.
"Precisa se concretizar ou fortalecer as políticas essenciais para alcançar os objetivos e qualidade de vida. É preciso um novo pacto social para que os direitos à saúde e educação, retirados da sociedade, possam ser devolvidos", expõe Beatriz Dobashi.
Em discurso após a Dra. Beatriz, Adriane Lopes reconheceu que muitas das políticas públicas em saúde evoluíram graças à contribuição da ex-secretária.
"A senhora é uma referência como mulher; como gestora e como defensora do SUS. Muito obrigada pelos seus ensinamentos", exaltou Adriane.
Como detalhou a prefeita, num evento com 5.783 prefeitos do Brasil, Campo Grande, "com toda a dificuldade que temos e tratativas que precisamos melhorar" - como aponta a Prefeita -, é uma cidade referência no SUS.
"Nós devemos isso também a todo o trabalho que a senhora prestou e toda contribuição que trouxe, não só para a saúde pública de Campo Grande, mas para a do nosso País. O SUS, hoje, tem grandes políticas voltadas para a saúde e o desenvolvimento dele passa também pelas suas mãos", disse.
Formada em medicina em 1975, Beatriz atuou em órgãos municipais e estaduais e fez parte do Conassems, conselho que representa secretários de saúde de todo o país.
A médica ocupou o cargo de secretária municipal de Saúde na gestão do então prefeito André Puccinelli, entre 1998 a 2004. Ela também esteve à frente da pasta estadual de Saúde até 2013, também sob o comando de Puccinelli.
Além disso, Beatriz foi professora na Faculdade Unidas do Mato Grosso (Fucmat), atual UCDB, e voluntária no Hospital São Julião.
Com o tema “Garantir Direitos e Defender o SUS, a Vida e a Democracia – Amanhã vai ser outro dia”, essa conferência acontece há cada quatro anos, com programações durante todo o dia até amanhã (25), de onde serão tiradas proposições para a 17ª Conferência Nacional de Saúde, prevista para acontecer em julho, em Brasília (DF).
Citando sua participação em eventos que envolvem representantes, para dizer que Campo Grande é referência, sendo confrontada pela ativista da saúde, Socorro Mato, presente no primeiro dia da conferência, aproveitando momento de debate para tecer críticas às manobras de privatização que atingem os serviços da saúde.
"Saúde pública é deficitária, não é o que queremos e que nos define como cidadãos. Estou aqui hoje mais uma vez, sou sindicalista e inclusive já participei várias vezes no CEM (Centro de Especialidades Médicas), onde denunciamos a precarização e equipamentos que não fazem sentido", comentou.
Ainda, aproveitou para tecer uma nota de repúdio à fala de Adriane, em relação à administração do que é empregado na saúde, que colocam a região como "referência" da forma que ela diz.
"Não condiz com a realidade que nós vivemos, onde nosso dinheiro é desviado para o setor privado, precarizando a saúde pública. Nós queremos resposta", disse.
Confirmando a denúncia de Socorro, a vereadora Luiza Ribeiro tomou fala no microfone para concordar que "estamos vendo um andar para trás", nas palavras da parlamentar.
Para Luiza, esse "andar para trás" faz com que o SUS perca importância, no contexto da construção da saúde das famílias.
"E isso é sentido por usuários; pelos trabalhadores da saúde, e é reconhecido por aquele gestor que quer funcionar. Não podemos chegar nessa conferência ao final, com o entendimento de que o SUS e a saúde pública em Campo Grande tem nota 10 ou 9, porque não é essa avaliação nós percebemos no cotidiano", pontua
Luiza confirma que a Capital segue no sentido de contratualizar com a rede particular, sem olhar para o problema como de fato um, o que afasta a tomada de decisões da solução em definitivo.
"Comprando serviços de outro lugar, pagando bem caro, inclusive, e não estamos construindo. Como Campo Grande até agora não tem funcionando um hospital público municipal? Contratamos a Santa Casa, Hospital do Câncer, mas o que a gente ouve de contrapartida, que estamos atrapalhando", questiona Luiza.
Com isso, ela questiona justamente o ponto dos recursos alocados nos terrenos, para edificação dessas unidades, dizendo que sempre acontecem repactuações para atualização de valores quado estes não são suficientes.
"Foi equipado e funciona com recursos do SUS, mas é tratado perante o povo que paga os impostos, como se estivessem lá fazendo um favor que a gente deve agradecer de joelhos a boa prestação de serviços públicos".
Ela completa dizendo que um dos apontamentos da Conferência precisa ser no sentido de que "recursos do SUS tem que ir para o organismo público".
"Vamos construir nosso hospital, laboratórios regionais, não é caro. Vamos fazer nossa rede para termos o SUS quando a gente precisa".
Em alerta, por fim, Luiza salienta a prestação de execução orçamentária, de que Campo Grande aloca um terço de seus recursos, 26,7% do que é arrecadado pelo Executivo, na saúde pública.
"E nós temos uma saúde pública nota 10? Será que os usuários e trabalhador da saúde estão errados? Ou a gente que está falhando há anos na atividade de gestão desse sistema?", finaliza.