Toda vez que chove forte, Valdeci Queiroz da Silva, 35 anos, já sabe que vai ter um problema, o esgoto da Rua Poente, no Bairro Rancho Alegre, será afetado pelas águas pluviais e haverá extravasamento do cano que passa pela via, deixando mal cheiro. Projeto feito entre a concessionária de água de Campo Grande, Águas Guariroba, e a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, porém, promete resolver esse problema.
A parceria foi fechada no início deste mês, com a doação de equipamentos por parte da concessionária ao órgão municipal, em troca, a Defesa Civil vai repassar dados meteorológicos, avisos de chuva e, quando estiver chovendo, onde está concentrada a precipitação e a quantidade de milímetros em cada um dos 54 pontos de coleta pluviométrica que a entidade tem nas 58 microbacias espalhadas por Campo Grande.
Com esses dados, segundo o coordenador de operações da concessionária, Vinícius Faustino, a Águas Guariroba vai poder mandar equipes aos locais com os maiores acumulados para fazer ações específicas que ajudem a evitar o extravasamento do esgoto.
“Nós temos muitas ligações clandestinas de rede pluvial na rede de esgoto, e nossa rede não é dimensionada para receber esse fluxo de água, por isso acontecem os transbordamentos quando chove. Com essa parceria, vamos conseguir uma melhoria operacional para direcionar esforços para os locais onde, no momento, há aumento de chuvas e evitar o aumento do nível do esgoto com serviço preventivo para que isso não ocorra”, explicou Faustino.
De acordo com o coordenador, atualmente, quando chove, equipes são destinadas a rondas para checagem do nível de esgoto, entretanto, nem todos os lugares são atendidos a tempo para evitar o transbordamento, porque as equipes não sabem onde está e onde não está chovendo, há apenas um alerta meteorológico para toda a cidade.
“Quando vai chover, fazemos o reforço das equipes já prevendo que vai ter ocorrências, só que não conseguimos direcioná-las para todas as regiões que chove, porque não sabemos onde está chovendo. Agora, vou conseguir direcionar nossos esforços para esses locais onde posso ter problemas”, afirma Faustino, completando que em dias normais há 10 equipes, mas em dias de chuva são 20 equipes colocadas na rua.
Esse é o caso da Rua Poente, Bairro Rancho Alegre, onde o militar da reserva Valdeci reside. Ele conta que mora há três anos no bairro, e que, quando há chuvas mais intensas, o esgoto sempre volta e fica exposto na frente das casas.
“Quando as tambas do esgoto estouram no decorrer da rua, o mal cheiro corriqueiro e insuportável se espalha e entra em nossas residências”, disse.
Queiroz salienta que os problemas de extravasamento do esgoto durante as chuvas ainda não foram resolvidos e que, por vezes, é necessário acionar a Águas Guariroba para uma equipe ser deslocada para conter o problema na rua Poente.
O militar reformado destaca que o problema de vazamento de esgoto é antigo no bairro e que a falta de asfalto em algumas partes da rua, que também corta os bairros Portal Caioba, Bela Laguna e Santa Emília, corrobora para o extravasamento dos dejetos durante os temporais.
“Já conversei com outros vizinhos que moram aqui há mais tempo, e esse é um problema antigo por aqui. Um pouco mais à frente na rua, onde já não há mais asfalto, basta chover para o esgoto que não possui ligações com a rede tomar a rua”, afirmou.
Segundo o coordenador de operações da Águas Guariroba, algumas outras tecnologias já presentes na rede também ajudam a monitorar a condição dos pontos de esgoto da Capital. A concessionária tem em tempo real os dados de operação das estações e os índices de elevação de esgoto e a situação das bombas.
“Caso nada saia do padrão, as equipes ficam fazendo um roteiro de lugares possíveis de problemas para verificação das bombas. Quando sai do padrão, eles são informados e uma equipe se desloca para esse local”, explicou.
Conforme a concessionária, esses problemas costumam ser causados por ligações que alguns moradores fazem irregularmente, de descarte de água na rede de esgoto, em vez de destiná-la para a rede de águas pluviais. “Alguns moradores ligam a calha do telhado, por exemplo, direto no esgoto, isso está errado”.
“O principal ganho é virando a segurança das operações e proporcionar mais satisfação para o nosso cliente”, completou Faustino.
Pelo lado da Defesa Civil de Campo Grande, o ganho foi de equipamentos e de colaboração em um futuro possível problema que a entidade venha a ter de intervir em Campo Grande.
Com os equipamentos doados pela concessionária, a sala de situação, que hoje funciona na coordenadoria, deverá ser ampliada e mais locais poderão ser acompanhados em tempo real e ao mesmo tempo.
De acordo com o coordenador municipal de proteção e Defesa Civil de Campo Grande, major Pedro Centurião Filho, o órgão se comprometeu a passar informações em tempo real para a entidade, que também poderá ajudar em caso de desastres naturais com equipamentos.
“Nossa sala de situação acompanha a questão meteorológica em tempo real e faz previsões e alertas para a população em caso de tempestades, e são esses dados que serão repassados à concessionária, assim como os índices pluviométricos, para que eles possam melhorar o atendimento deles. Temos equipes que ficam 24 horas de plantão na coordenadoria fazendo esses monitoramentos”, explicou Centurião.
Hoje, há previsão de chuva em Campo Grande e, de acordo com a Defesa Civil e com a Águas Guariroba, esse serviço já poderá ser colocado em prática.