SEGUNDA FEIRA, 15 DE DEZEMBRO DE 2025

Para aposentados de MS, mudanças na previdência são boas, ainda que tardias


Ampliação da isenção da faixa de contribuição foi aprovada ontem na Alems; grupo diz que empresa contratada pelo governo sugeriu ampliar a contribuição dos servidores para 17%, mas governo acabou ampliando a contribuição patronal para 28%

O Movimento dos Aposentados e Pensionistas de Mato Grosso do Sul afirma que os projetos enviados pelo governo do Estado para salvar a previdência – aumentando os aportes patronais e isentando da contribuição mensal de 14% os aposentados e pensionistas com comorbidades que ganham até três salários mínimos – representam uma vitória do grupo.

No entanto, eles destacam que elas são tardias, pois o combinado era que os projetos fossem enviados no início do ano, e que ainda é necessário fazer mais para garantir a saúde financeira da previdência.

O grupo questiona, sobretudo, a auditoria realizada pela Brasilis Consultoria e alega que, se não fosse a atuação ativa de seus representantes junto à administração do governador Eduardo Riedel, o plano proposto pela consultoria poderia ser ainda mais nocivo para os aposentados e pensionistas.

Após a publicação de parte do estudo, que mostra que os servidores em atividade ganham menos do que os aposentados em Mato Grosso do Sul, o grupo organizado de aposentados procurou o Correio do Estado para dar sua versão sobre o estudo previdenciário e apontar duas falhas de contexto.

A primeira delas é que é natural que os servidores em atividade, que ainda estão em início de carreira, tenham uma carga salarial menor. A segunda é que aposentados de carreiras como magistratura, Ministério Público, Polícia Civil, Fisco, entre outras, cujo salário se aproxima do teto do serviço público, com vencimentos acima de R$ 30 mil, elevam a média dos gastos com a folha da previdência.

O estudo da Brasilis Consultoria, encomendado pelo governo estadual, apontava que, em setembro do ano passado, a folha dos 32.030 servidores ativos custava R$ 286,3 milhões por mês aos cofres públicos, resultando em uma remuneração média de R$ 8.955,31 para cada um em atividade.

A folha mensal dos 24.685 aposentados de MS totalizava R$ 276.388.200,33, com uma idade média de 69 anos e um rendimento médio de R$ 11,1 mil. Já a folha dos 4.336 pensionistas era de R$ 40.844.355,66, enquanto o rendimento médio desse grupo, segundo o estudo, era de R$ 9.419,82.

Deficit

O mesmo estudo identificou, em dezembro do ano passado, um deficit atuarial de R$ 11,6 bilhões. Agora, o governo do Estado elevará de 23% para 28% sua contribuição patronal para a Agência Estadual de Previdência (Ageprev).

Nesse ritmo, o deficit atuarial estaria zerado em 2065. O plano de amortização entraria em vigor em janeiro do ano que vem, sendo reajustado gradativamente até 2028, quando seria fixado até 2065. O projeto ainda tramita na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems).

O movimento dos aposentados lembra que o estudo contratado pelo governo para “salvar” a previdência estabelecia um aumento na contribuição dos trabalhadores e pensionistas para 17%, e não um aumento na contribuição patronal para pôr fim ao deficit atuarial.

No ano que vem, o aporte anual será de R$ 168,1 milhões, somando 12 parcelas de R$ 14,01 milhões que começarão a ser pagas à Ageprev a partir de janeiro. Em 2026, as parcelas subirão para R$ 21,7 milhões, totalizando R$ 261 milhões ao fim daquele ano.

Em 2027, as parcelas aumentarão para R$ 33,5 milhões, resultando em um aporte final de R$ 402,3 milhões. Entre 2028 e 2065, as parcelas mensais serão de R$ 52,4 milhões, totalizando aportes anuais de
R$ 629,6 milhões.

Projeto aprovado

Na mesma linha de atuação dos aposentados, o projeto que isenta os aposentados e pensionistas com comorbidades que ganham até três salários mínimos da contribuição de 14% foi aprovado em primeira votação ontem na Alems. A matéria será submetida a uma segunda votação e, posteriormente, seguirá para a sanção do governador Eduardo Riedel (PSDB).

Após a aprovação e sanção desse projeto de lei, estarão isentos da contribuição de 14% os aposentados e pensionistas com as seguintes doenças: moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget, contaminação por radiação e síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), mesmo que a doença tenha sido contraída após a aposentadoria ou reforma.

O movimento informou ao Correio do Estado que mantém sua luta pela redução da contribuição de 14%, instituída por lei estadual de 2019, mesmo ano em que a Reforma da Previdência foi aprovada no País.

Até então, a contribuição do beneficiário era de 11%. Há uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) em que, por enquanto, a maioria dos ministros considera inconstitucional tal aumento no porcentual de contribuição nas leis estaduais. O julgamento da ação ainda não terminou.

R$ 11,6 bi deficit atuarial

O deficit atuarial da previdência dos servidores de Mato Grosso do Sul está em R$ 11,6 bilhões. A expectativa é de que, no fim do ano que vem, quando o plano de salvação for implementado, esse deficit caia para aproximadamente R$ 9 bilhões. O plano é zerá-lo até 2065. 


Fonte: https://correiodoestado.com.br