Há dois anos, Gabriela Cabral Gaiofato, 36, girou a chave e decidiu mudar de área profissional. Da radiologia, ela seguiu para a gastronomia. Apesar de serem áreas de atuação totalmente diferentes, o objetivo sempre foi cuidar das pessoas.
Até então, Gabi, como é chamada pela maioria dos clientes que passam pelo pequeno trailer localizado no cruzamento da Rua dos Missionários com a Ciro Melo, em Dourados, fazia mestrado na USP (Universidade de São Paulo), uma das mais concorridas do país, e tinha o sonho de seguir carreira no Exército.
Mesmo vendendo o carro e a moto, Gabi ainda ficou com as contas que fez para pagar o trailer, tudo isso em meio a pandemia. Com o negócio ainda no início, também teve que enfrentar os desafios de passar pelo lockdown e o estabelecimento precisou ser fechado duas vezes.
Com o tempo, o fluxo foi aumentando, as coisas entrando nos eixos e todo dia chegando um novo cliente, apenas no ‘marketing boca a boca’, [entre eles, eu, que escrevo a matéria e sou frequentadora do espaço. Não tem como ir e não indicar para um amigo].
Além da comida que é uma explosão de sabores, o local é totalmente ‘instagramável’ e cheio de detalhes. Desde os sombreiros pendurados, até a grama cortada passa pelas mãos de Gabi que, além dos pratos, também é responsável pela manutenção do espaço.
Inclusive, ela se divide para dar conta de tudo. No momento em que a reportagem do Dourados News estava no local, por exemplo, a comerciante desenformava o empadão, enquanto fazia a conta na calculadora e ainda atendia os clientes que aguardavam, sempre com um carinho genuíno.
Mesmo sem ter experiências anteriores na área, Gabi conta que desde o começo a ideia foi fazer um ambiente onde as pessoas se sentissem em paz. Ela já tinha a experiência do atendimento ao público porque trabalhava em uma concessionária, porém, sentia falta da afetividade em lidar com as pessoas, o que pôde mudar quando colocou o seu projeto em prática.
Inclusive, ela conta que muitos pacientes oncológicos de outras cidades, que se tratam em um hospital nas proximidades, vão até o espaço apenas para descansar. “Eu trato as pessoas como gostaria de ser tratada e é a mesma coisa com a comida”, explica.
“Quero que as pessoas cheguem aqui e sintam-se em casa. Tem gente que chega aqui, tira o chinelo, fica descalço, parece que tá no quintal de casa. É essa sensação que quero proporcionar para as pessoas”, comentou sobre a sua forma de atendimento.
Outro ponto incomum, pelo menos em Dourados, é que a comerciante costuma ouvir as dicas dos clientes, como no caso do ‘goiano’ [um pão com queijo, com variações doce e salgada], que foi sugestão de uma frequentadora do espaço.
Após quatro tentativas frustradas, ela conseguiu fazer a sugestão e ligou para a cliente ir experimentar. “Lembro até hoje, estava chovendo, ela ali na portinha, ela comia o goiano, fechava os olhos e falava ‘Gabi parece que eu tô dentro da padaria em Goiânia”, conta.
E foi a partir desse contato direto e da proximidade que cultivou com os clientes, que ela construiu uma rede de amigos. Inclusive, muitos deles participaram de uma 'vakinha' quando furtaram os equipamentos do trailer há um tempo.
“Acredito que Deus realiza os nossos sonhos e isso me faz muito feliz. Cozinhar para alguém é uma forma de demonstrar amor, carinho. Quando fiz a faculdade na área da saúde, eu pensava nessa afetividade de cuidar, mas agora vejo isso na comida porque também é uma forma de cuidar do outro”, comenta Gabi.
E mesmo com as aprovações e a correria do dia-a-dia, porque ainda não expandiu a equipe, Gabi decidiu cursar gastronomia esse ano, “a faculdade veio para abrir os olhos, tanto na parte técnica, quando na parte de conhecimento”, enfatizou.